Post by 7Figo on Oct 17, 2007 13:36:50 GMT
17.10.2007
Entrevista de Figo ao jornal "O JOGO"
"Aos Estados Unidos não fecho a porta"
Conforme o anunciado ainda antes do último defeso, o mais internacional dos jogadores portugueses já decidiu terminar a carreira na alta competição no fim desta temporada. Ou quase. Uma aventura no futebol norte-americano poderá estar ainda em agenda....
LUÍS ANTÓNIO SANTOS, em Milão (Itália)
O sonho continua a perseguir Figo. O jogador mais internacional da história do futebol português enfrenta, sem dramas, o final de uma carreira de 20 anos, mas não coloca de lado a hipótese de fechá-la com uma nova aventura: Estados Unidos. Não quer, pelo menos para já, a gravata que Vítor Baía já usa e que Rui Costa pode vir a usar num futuro breve. Do relvado para o gabinete, podia ser um título de um filme. Não é. Vítor Baía já é director do FC Porto e há quem sugira que dará um bom presidente; Rui Costa é apontado como o futuro homem forte do Benfica; e Figo tem em carteira a proposta do presidente Moratti para ser o responsável pelas relações internacionais do Inter de Milão.
P | Figo é o próximo a ter o nome na porta de um gabinete? Já decidiu o que vai responder à proposta do presidente Moratti?
R | Neste momento, não pensei ainda profundamente. Foi numa conversa entre amigos que o presidente comentou essa situação. Mas eu tenho uma ideia muito clara em relação ao que posso fazer quando abandonar a prática desportiva. Preciso de ter a plena consciência de que acrescento alguma coisa de positivo ao que vou fazer. Tanto para mim como para a entidade que possa vir a servir. Se for unicamente estar só por estar, prefiro ficar em casa e não fazer nada. Isso é sagrado.
P | Mas Vítor Baía já assumiu e Rui Costa vai a caminho… Como analisa o percurso de dois ex-companheiros de campo?
R | É um percurso lógico. Tens vocação, tens vontade, assumes. Não tens, não assumes. Acho que tanto o Rui como o Vítor têm experiência de futebol, têm uma boa imagem em termos de poderem representar bem tanto o Benfica como o FC Porto a nível mundial. E depois, tem a ver com a vocação. Em termos de experiência é importante saber-se se se quer fazer isso ou não, porque a experiência de gerir não é a mesma da prática do futebol. Vai-se ganhando no dia a dia. Mas ambos têm todas as possibilidades para o fazer, são pessoas inteligentes, têm experiência de muitos anos de futebol, viveram a parte prática e técnica do futebol. Logicamente, poderá faltar-lhes o complemento da experiência de gerir o clube. Mas isso aprende-se. Se tiveres a mente aberta, estás sempre a aprender.
P | E Figo?
R | Eu vejo-me a jogar futebol. O que vai acontecer amanhã não sei.
P | Coloca a possibilidade de ser treinador?
R | A curto prazo não. Não está na minha mente realizar essse tipo de trabalho. Nunca se sabe o que o futuro nos reserva, mas para já não penso em ser treinador. Primeiro, porque não gosto; depois, acho que é pior do que ser jogador e, como já levo 20 anos a jogar, vejo coisas mais interessantes a que posso dedicar-me.
P | Quanto tempo mais vamos ter Figo a jogar ao mais alto nível?
R | Este ano e depois acabo.
P | Nem para ir jogar no campeonato norte-americano, onde já estão os seus amigos David Beckham e Abel Xavier?
R | A não ser que surja uma oportunidade, que seja mais um complemento para a minha vida familiar, que acrescente alguma coisa, por exemplo, às minhas filhas.
P | Não fecha, então, a porta…
R | Não fecho a porta aos Estados Unidos, antes pelo contrário. Já decidi em termos de prática desportiva. Se jogar mais, terei de acrescentar alguma coisa de positivo, sei lá, em termos de família. Por exemplo, dar às minhas filhas a oportunidade de praticarem inglês, algo que seja benéfico também para elas. Se surgir alguma coisa importante nos Estados Unidos vou, se não, acabo.
P | Despede-se da alta competição sem jogar na Premier League…
R | Não é nenhuma mágoa. As pessoas confundem um pouco os sonhos. Um sonho não se realiza, tudo bem. Cresci a acompanhar a Taça dos Campeões, a ver jogar o Liverpool. É normal crescer a ver esses jogos, sentir prazer em seguir esses espectáculos. Foi o que aconteceu comigo. Entretanto, a minha vida tomou outro rumo, tive uma ou outra oportunidade mas não se concretizou. Estou extremamente feliz com a minha carreira.
P | O futuro será uma semana em Madrid, outra em Milão?
R | No princípio pensei apenas Madrid/Lisboa, agora é Madrid/Milão. Sou um cidadão do Mundo. Gosto de viajar. É das coisas mais fantásticas; é uma forma de aprender. Se tenho essa oportunidade, viajo. Sou um cidadão do Mundo. Hoje estou aqui, amanhã estou noutro lado qualquer. Mas precisarei de ter um sítio fixo, pelo menos sete/oito meses para as minhas filhas irem à escola. Preciso de uma base.
P | E a base é…
R | Madrid
____________
"Tenho grande orgulho na Selecção"
Paixão em tamanho XXL. Eis uma das muitas formas de definir a relação entre Figo e a Selecção Nacional. Envolvimento total. Embora fisicamente afastado do grupo que luta pela presença - a quarta consecutiva - na fase final de um Campeonato da Europa, Figo segue atento todas as notícias, e não perde nenhum duelo, assumindo-se como um fervoroso adepto de uma equipa que já foi sua. São 20 anos de ligação estreita, mais de 180 jogos, estágios e amigos, lágrimas e golos memoráveis. Companheirismo e cumplicidade. Conforto. Agora alguma saudade. "Saudade tem-se sempre, mas ninguém é eterno. Tenho um grande orgulho no meu percurso na Selecção; passei lá uma vida", sublinha, sorriso aberto, porque é com o ar mais feliz do Mundo que fala da Selecção Nacional. É um histórico do futebol mundial e o mais internacional jogador português. Razões mais do que suficientes para se seguir atentamente as opiniões daquele que ainda é, à beira dos 35 anos, um dos mais respeitados futebolistas à face da Terra.
P | A questão do regresso de Figo à Selecção Nacional coloca-se ainda? Se Luiz Felipe Scolari o chamar para jogar a fase final do Europeu vai aceitar de novo o repto?
R | Não, essa questão não se pode colocar. O meu trajecto na Selecção foi fantástico, estou orgulhoso dos anos que lá passei . Neste momento, faço parte do grupo de adeptos da Selecção Nacional, tal como todo o povo português. Gosto de acompanhar os jogos e adoro quando as coisas correm bem, sofro e vibro com os bons e os maus resultados, e acima de tudo tenho grande orgulho na nossa selecção e nos nossos jogadores.
P | Temos então um Figo totalmente confiante. Mas nos recentes encontros com a Polónia e Sérvia não terá faltado alguma experiência que ainda poderia, por exemplo, emprestar à equipa?
R | Estamos lançados. Portugal vai estar presente na fase final, não tenho dúvidas. Durante o apuramento acontecem sempre imprevistos, mas a qualidade da equipa de Portugal é muito superior às outras equipas do grupo. O apuramento vai ser uma realidade. Nesses jogos, Portugal, a espaços, não jogou bem. Acho que faltou de certa maneira, nalguns jogadores importantes, melhor forma física e faltou também alguma pontinha de sorte, nos momentos cruciais. Apesar de não ter feito dois jogos brilhantes, a Selecção Nacional não teve sorte nas pontas finais, sofrendo golos em momentos que decidem o resultado. Mas Portugal é muito mais forte em termos técnicos. Nos tempos que correm, ganhar fora é difícil, em casa igualmente. Mas Portugal é a melhor equipa, com mais qualidade técnica.
P | A renovação está em marcha; Nani, Miguel Veloso, João Moutinho, Hugo Almeida e Bruno Alves são alguns dos novos rostos da equipa nacional. O processo está a correr nos trâmites normais?
R | Estamos a renovar há quatro anos. É normal. Uma renovação para ser eficaz tem de ser gradual. Vão entrando jogadores novos conforme vão aparecendo no panorama nacional. Todos os anos aparecem novos valores, como sempre acontece no futebol português. Isso é bom e é sinal de que os clubes continuam a fazer um trabalho positivo na formação.
P | O Miguel Veloso, por exemplo, foi considerado um dos melhores no recente encontro contra o Azerbaijão…
R | Está a fazer uma integração natural e normal. São jovens com valor que têm tido o crescimento normal em termos de escalões jovens, têm ganho experiência nas camadas jovens da Selecção e, no caso específico, na formação do Sporting. É o trajecto normal para um jovem que tem sido escolha das outras selecções e está a cimentar a sua carreira, chegando agora à selecção A.
P | Depois de Deco… Pepe. Mais um brasileiro naturalizado a chegar à Selecção Nacional. Como analisa a situação?
R | A minha opinião é a mesma de sempre, não mudou com o passar dos anos, antes pelo contrário. Não tem nada a ver com as pessoas, isso que fique, mais uma vez, bem claro. Acho é que as leis não são muito coerentes. Talvez se deva mudar as leis, porque as pessoas não têm culpa. Tendo eu passado pela formação e pelos escalões todos da Selecção Nacional, não posso estar a favor de se naturalizar para jogar na selecção. Já que se abriu um precedente, quem ditou que fosse assim venha esclarecer e dar a sua opinião, positiva ou negativa.
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"Portugal tem obrigação de ganhar este jogo"
Em Milão, Figo falou do Cazaquistão. Rima e é sinónimo de dificuldades, adivinhadas por quem passou demasiadas vezes por desafios em que o grau de dificuldade contrasta com a importância do que está na mesa. "O grupo é estranho. Não há selecções de grande qualidade, mas é incómodo. Viagens longas, passe a expressão quase no fim do Mundo, adversários motivados por defrontarem uma das mais fortes selecções mundiais. Há que sofrer, dar tudo e respeitar o potencial do adversário. Portugal tem obrigação de ganhar, e tem de encontrar motivação para jogar contra estas equipas. A minha mensagem é de confiança e de apoio. Todos os jogadores sabem da importância deste tipo de jogos onde se tem muito mais a perder do que a ganhar, porque se Portugal ganha é normal, se perde complica as contas do apuramento. E o perigo é esse. Acaba por ser pôr em risco um apuramento em jogos em que, na teoria, Portugal tem de ganhar".
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"Scolari assumiu que errou e pronto"
P | Como seguiu o episódio que envolveu Scolari e Dragutinovic no final do encontro entre Portugal e a Sérvia?
R | Achei o que todo o mundo deve ter achado: foi inesperado. Explicações? São reacções espontâneas, inexplicáveis, mas que acontecem, num momento de tensão, a quente. A frio já não são possíveis. Pensando a frio, o mister sabe que errou e logicamente assumiu o erro. São reacções que só as pessoas que as vivem podem explicar. Quem vive o jogo de forma intensa por vezes comete esse tipo de erro. O mais importante é que a pessoa se redima e assuma que errou. Foi o caso.
P | Razões para o desnorte: tensão a mais? Não saber lidar com a pressão de um empate perigoso?
R | Perguntam: são reacções normais no futebol? Não são, mas acontecem. Não tem a ver com A, B ou C. Perguntando a frio ao 'mister' se fez bem, ele diz que não, claro. Se eu fizesse uma coisa daquelas, fazia bem? Lógico que não. Mas não é uma coisa que acontece do nada. Há razões. Tem tudo um começo e um fim. No final assumiu que errou, acabou, pronto. Toda a gente é humana e pode errar.
P | Para Figo, como para a maioria dos portugueses, Cristiano Ronaldo é o futuro do futebol português?
R | De certeza. É, neste momento, a figura mais popular, emblemática e mediática do futebol português. E se tiver uma evolução normal, sem dúvida que sim. Esperemos que também seja normal o desempenho da Selecção Nacional daqui para o futuro, que é marcar sempre presença nos grandes eventos, coisa que quando cá cheguei não acontecia. Esperemos que isso possa ajudá-lo no sentido de ganhar ainda mais prestígio e notoriedade e poder ajudar Portugal a cimentar a sua posição internacional.
P | Como analisa a chegada do Ronaldo ao cargo de capitão da Selecção Nacional tão jovem? O futuro passa por ele?
R | Essa é uma decisão do treinador. Ao longo dos anos recaiu no mais antigo, o mais internacional. É uma decisão de quem manda; naquele momento foi decidido assim. Há que respeitar.
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"Ser presidente da Federação não é uma meta neste momento"
P | Figo, Rui Costa, Fernando Couto, João Pinto; quatro exemplos de jogadores pertencentes à chamada geração de ouro que ainda estão no activo e ao mais alto nível. Com explica esta situação?
R | É com muito agrado que sigo essa leitura. Agrada-me, no sentido de que já tivemos oportunidade de ganhar tudo no futebol e que conseguimos manter um alto nível, querendo sempre ganhar, jogando sempre com esse objectivo, com um espírito de conquista. O mais difícil numa carreira de alta competição não é chegar ao "top" ou estar um ano no "top". Um ano toda a gente, tendo alguma qualidade, pode lá chegar. O mais difícil é mantermo-nos num alto patamar durante 15/20 anos.
P | Rui Costa tem sido o verdadeiro maestro do Benfica. Surpreende-o?
R | Não me surpreende nada, porque conheço bem o Rui. Quando tens qualidade e tens uma atitude de querer ganhar sempre, de manter o prestígio, de não baixar o nível, chegas lá. E é esse é o espírito do Rui. Há, claro, o aspecto da saúde que decide. Se tens ou não capacidade física que te permite fazer isso que te permite corresponder à qualidade que tens. Se é assim, tudo bem, depois é uma questão para o treinador decidir. Se não, como aconteceu ao Rui no ano passado é extremamente difícil.
P | Figo não se imagina na presidência da Federação ou do Sporting, por exemplo?
R | Não vou dizer que quero ser isto ou aquilo. Quando deixar de jogar futebol, de certeza que vou ter oportunidades de me envolver em projectos novos. Mas não tenho o objectivo de ser presidente da Federação. Não é um objectivo imediato. Não é uma meta a que me proponho neste momento. Se calhar daqui a dois anos passa a ser e então terei de lutar e preparar-me para isso. Mas não é uma situação que neste momento me interesse, do género, ok, vou deixar o futebol e vou preparar-me para ser presidente da Federação ou de outra coisa qualquer.
P | Do Sporting…
R | Não, não são coisas que pense neste momento. Se surgir um projecto interessante a que eu pense que posso acrescentar algo de positivo, e não por ser unicamente Figo, no momento que achar que é o melhor caminho, pensarei no assunto. E não será por ser o Figo que serei presidente da Federação ou do Sporting ou do que quer que seja. Tenho de pôr qualquer coisa de positivo nesses projectos no sentido de as pessoas confiarem em mim e no meu trabalho. Não vou querer estar num sítio apenas por me chamar Luís Filipe Madeira Caeiro Figo.
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"Kaká vai ganhar o FIFA World Player"
Em Dezembro, a FIFA escolhe o sucessor de Cannavaro, mas Figo não tem dúvidas. "Ganha Kaká. Conquistou a Liga dos Campeões e esse é um ponto importante na decisão". Cristiano Ronaldo e Deco são os representantes da Selecção Nacional no restrito naipe de 30 candidatos ao "FIFA World Player", onde está também Messi, outro favorito. "É sempre subjectivo falar de A, B ou C quando há tanta qualidade. Em termos individuais há um grupo de dez jogadores que podem, ano a ano, lutar por esse prémio", explica o extremo do Inter, que considera basilar o comportamento dos candidatos nos grandes eventos. "O estado físico é sempre importante para uma boa resposta individual, mas o que se ganha nos clubes e os desempenhos nos Mundiais e Europeus também são factores importantes".
Entrevista de Figo ao jornal "O JOGO"
"Aos Estados Unidos não fecho a porta"
Conforme o anunciado ainda antes do último defeso, o mais internacional dos jogadores portugueses já decidiu terminar a carreira na alta competição no fim desta temporada. Ou quase. Uma aventura no futebol norte-americano poderá estar ainda em agenda....
LUÍS ANTÓNIO SANTOS, em Milão (Itália)
O sonho continua a perseguir Figo. O jogador mais internacional da história do futebol português enfrenta, sem dramas, o final de uma carreira de 20 anos, mas não coloca de lado a hipótese de fechá-la com uma nova aventura: Estados Unidos. Não quer, pelo menos para já, a gravata que Vítor Baía já usa e que Rui Costa pode vir a usar num futuro breve. Do relvado para o gabinete, podia ser um título de um filme. Não é. Vítor Baía já é director do FC Porto e há quem sugira que dará um bom presidente; Rui Costa é apontado como o futuro homem forte do Benfica; e Figo tem em carteira a proposta do presidente Moratti para ser o responsável pelas relações internacionais do Inter de Milão.
P | Figo é o próximo a ter o nome na porta de um gabinete? Já decidiu o que vai responder à proposta do presidente Moratti?
R | Neste momento, não pensei ainda profundamente. Foi numa conversa entre amigos que o presidente comentou essa situação. Mas eu tenho uma ideia muito clara em relação ao que posso fazer quando abandonar a prática desportiva. Preciso de ter a plena consciência de que acrescento alguma coisa de positivo ao que vou fazer. Tanto para mim como para a entidade que possa vir a servir. Se for unicamente estar só por estar, prefiro ficar em casa e não fazer nada. Isso é sagrado.
P | Mas Vítor Baía já assumiu e Rui Costa vai a caminho… Como analisa o percurso de dois ex-companheiros de campo?
R | É um percurso lógico. Tens vocação, tens vontade, assumes. Não tens, não assumes. Acho que tanto o Rui como o Vítor têm experiência de futebol, têm uma boa imagem em termos de poderem representar bem tanto o Benfica como o FC Porto a nível mundial. E depois, tem a ver com a vocação. Em termos de experiência é importante saber-se se se quer fazer isso ou não, porque a experiência de gerir não é a mesma da prática do futebol. Vai-se ganhando no dia a dia. Mas ambos têm todas as possibilidades para o fazer, são pessoas inteligentes, têm experiência de muitos anos de futebol, viveram a parte prática e técnica do futebol. Logicamente, poderá faltar-lhes o complemento da experiência de gerir o clube. Mas isso aprende-se. Se tiveres a mente aberta, estás sempre a aprender.
P | E Figo?
R | Eu vejo-me a jogar futebol. O que vai acontecer amanhã não sei.
P | Coloca a possibilidade de ser treinador?
R | A curto prazo não. Não está na minha mente realizar essse tipo de trabalho. Nunca se sabe o que o futuro nos reserva, mas para já não penso em ser treinador. Primeiro, porque não gosto; depois, acho que é pior do que ser jogador e, como já levo 20 anos a jogar, vejo coisas mais interessantes a que posso dedicar-me.
P | Quanto tempo mais vamos ter Figo a jogar ao mais alto nível?
R | Este ano e depois acabo.
P | Nem para ir jogar no campeonato norte-americano, onde já estão os seus amigos David Beckham e Abel Xavier?
R | A não ser que surja uma oportunidade, que seja mais um complemento para a minha vida familiar, que acrescente alguma coisa, por exemplo, às minhas filhas.
P | Não fecha, então, a porta…
R | Não fecho a porta aos Estados Unidos, antes pelo contrário. Já decidi em termos de prática desportiva. Se jogar mais, terei de acrescentar alguma coisa de positivo, sei lá, em termos de família. Por exemplo, dar às minhas filhas a oportunidade de praticarem inglês, algo que seja benéfico também para elas. Se surgir alguma coisa importante nos Estados Unidos vou, se não, acabo.
P | Despede-se da alta competição sem jogar na Premier League…
R | Não é nenhuma mágoa. As pessoas confundem um pouco os sonhos. Um sonho não se realiza, tudo bem. Cresci a acompanhar a Taça dos Campeões, a ver jogar o Liverpool. É normal crescer a ver esses jogos, sentir prazer em seguir esses espectáculos. Foi o que aconteceu comigo. Entretanto, a minha vida tomou outro rumo, tive uma ou outra oportunidade mas não se concretizou. Estou extremamente feliz com a minha carreira.
P | O futuro será uma semana em Madrid, outra em Milão?
R | No princípio pensei apenas Madrid/Lisboa, agora é Madrid/Milão. Sou um cidadão do Mundo. Gosto de viajar. É das coisas mais fantásticas; é uma forma de aprender. Se tenho essa oportunidade, viajo. Sou um cidadão do Mundo. Hoje estou aqui, amanhã estou noutro lado qualquer. Mas precisarei de ter um sítio fixo, pelo menos sete/oito meses para as minhas filhas irem à escola. Preciso de uma base.
P | E a base é…
R | Madrid
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"Tenho grande orgulho na Selecção"
Paixão em tamanho XXL. Eis uma das muitas formas de definir a relação entre Figo e a Selecção Nacional. Envolvimento total. Embora fisicamente afastado do grupo que luta pela presença - a quarta consecutiva - na fase final de um Campeonato da Europa, Figo segue atento todas as notícias, e não perde nenhum duelo, assumindo-se como um fervoroso adepto de uma equipa que já foi sua. São 20 anos de ligação estreita, mais de 180 jogos, estágios e amigos, lágrimas e golos memoráveis. Companheirismo e cumplicidade. Conforto. Agora alguma saudade. "Saudade tem-se sempre, mas ninguém é eterno. Tenho um grande orgulho no meu percurso na Selecção; passei lá uma vida", sublinha, sorriso aberto, porque é com o ar mais feliz do Mundo que fala da Selecção Nacional. É um histórico do futebol mundial e o mais internacional jogador português. Razões mais do que suficientes para se seguir atentamente as opiniões daquele que ainda é, à beira dos 35 anos, um dos mais respeitados futebolistas à face da Terra.
P | A questão do regresso de Figo à Selecção Nacional coloca-se ainda? Se Luiz Felipe Scolari o chamar para jogar a fase final do Europeu vai aceitar de novo o repto?
R | Não, essa questão não se pode colocar. O meu trajecto na Selecção foi fantástico, estou orgulhoso dos anos que lá passei . Neste momento, faço parte do grupo de adeptos da Selecção Nacional, tal como todo o povo português. Gosto de acompanhar os jogos e adoro quando as coisas correm bem, sofro e vibro com os bons e os maus resultados, e acima de tudo tenho grande orgulho na nossa selecção e nos nossos jogadores.
P | Temos então um Figo totalmente confiante. Mas nos recentes encontros com a Polónia e Sérvia não terá faltado alguma experiência que ainda poderia, por exemplo, emprestar à equipa?
R | Estamos lançados. Portugal vai estar presente na fase final, não tenho dúvidas. Durante o apuramento acontecem sempre imprevistos, mas a qualidade da equipa de Portugal é muito superior às outras equipas do grupo. O apuramento vai ser uma realidade. Nesses jogos, Portugal, a espaços, não jogou bem. Acho que faltou de certa maneira, nalguns jogadores importantes, melhor forma física e faltou também alguma pontinha de sorte, nos momentos cruciais. Apesar de não ter feito dois jogos brilhantes, a Selecção Nacional não teve sorte nas pontas finais, sofrendo golos em momentos que decidem o resultado. Mas Portugal é muito mais forte em termos técnicos. Nos tempos que correm, ganhar fora é difícil, em casa igualmente. Mas Portugal é a melhor equipa, com mais qualidade técnica.
P | A renovação está em marcha; Nani, Miguel Veloso, João Moutinho, Hugo Almeida e Bruno Alves são alguns dos novos rostos da equipa nacional. O processo está a correr nos trâmites normais?
R | Estamos a renovar há quatro anos. É normal. Uma renovação para ser eficaz tem de ser gradual. Vão entrando jogadores novos conforme vão aparecendo no panorama nacional. Todos os anos aparecem novos valores, como sempre acontece no futebol português. Isso é bom e é sinal de que os clubes continuam a fazer um trabalho positivo na formação.
P | O Miguel Veloso, por exemplo, foi considerado um dos melhores no recente encontro contra o Azerbaijão…
R | Está a fazer uma integração natural e normal. São jovens com valor que têm tido o crescimento normal em termos de escalões jovens, têm ganho experiência nas camadas jovens da Selecção e, no caso específico, na formação do Sporting. É o trajecto normal para um jovem que tem sido escolha das outras selecções e está a cimentar a sua carreira, chegando agora à selecção A.
P | Depois de Deco… Pepe. Mais um brasileiro naturalizado a chegar à Selecção Nacional. Como analisa a situação?
R | A minha opinião é a mesma de sempre, não mudou com o passar dos anos, antes pelo contrário. Não tem nada a ver com as pessoas, isso que fique, mais uma vez, bem claro. Acho é que as leis não são muito coerentes. Talvez se deva mudar as leis, porque as pessoas não têm culpa. Tendo eu passado pela formação e pelos escalões todos da Selecção Nacional, não posso estar a favor de se naturalizar para jogar na selecção. Já que se abriu um precedente, quem ditou que fosse assim venha esclarecer e dar a sua opinião, positiva ou negativa.
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"Portugal tem obrigação de ganhar este jogo"
Em Milão, Figo falou do Cazaquistão. Rima e é sinónimo de dificuldades, adivinhadas por quem passou demasiadas vezes por desafios em que o grau de dificuldade contrasta com a importância do que está na mesa. "O grupo é estranho. Não há selecções de grande qualidade, mas é incómodo. Viagens longas, passe a expressão quase no fim do Mundo, adversários motivados por defrontarem uma das mais fortes selecções mundiais. Há que sofrer, dar tudo e respeitar o potencial do adversário. Portugal tem obrigação de ganhar, e tem de encontrar motivação para jogar contra estas equipas. A minha mensagem é de confiança e de apoio. Todos os jogadores sabem da importância deste tipo de jogos onde se tem muito mais a perder do que a ganhar, porque se Portugal ganha é normal, se perde complica as contas do apuramento. E o perigo é esse. Acaba por ser pôr em risco um apuramento em jogos em que, na teoria, Portugal tem de ganhar".
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"Scolari assumiu que errou e pronto"
P | Como seguiu o episódio que envolveu Scolari e Dragutinovic no final do encontro entre Portugal e a Sérvia?
R | Achei o que todo o mundo deve ter achado: foi inesperado. Explicações? São reacções espontâneas, inexplicáveis, mas que acontecem, num momento de tensão, a quente. A frio já não são possíveis. Pensando a frio, o mister sabe que errou e logicamente assumiu o erro. São reacções que só as pessoas que as vivem podem explicar. Quem vive o jogo de forma intensa por vezes comete esse tipo de erro. O mais importante é que a pessoa se redima e assuma que errou. Foi o caso.
P | Razões para o desnorte: tensão a mais? Não saber lidar com a pressão de um empate perigoso?
R | Perguntam: são reacções normais no futebol? Não são, mas acontecem. Não tem a ver com A, B ou C. Perguntando a frio ao 'mister' se fez bem, ele diz que não, claro. Se eu fizesse uma coisa daquelas, fazia bem? Lógico que não. Mas não é uma coisa que acontece do nada. Há razões. Tem tudo um começo e um fim. No final assumiu que errou, acabou, pronto. Toda a gente é humana e pode errar.
P | Para Figo, como para a maioria dos portugueses, Cristiano Ronaldo é o futuro do futebol português?
R | De certeza. É, neste momento, a figura mais popular, emblemática e mediática do futebol português. E se tiver uma evolução normal, sem dúvida que sim. Esperemos que também seja normal o desempenho da Selecção Nacional daqui para o futuro, que é marcar sempre presença nos grandes eventos, coisa que quando cá cheguei não acontecia. Esperemos que isso possa ajudá-lo no sentido de ganhar ainda mais prestígio e notoriedade e poder ajudar Portugal a cimentar a sua posição internacional.
P | Como analisa a chegada do Ronaldo ao cargo de capitão da Selecção Nacional tão jovem? O futuro passa por ele?
R | Essa é uma decisão do treinador. Ao longo dos anos recaiu no mais antigo, o mais internacional. É uma decisão de quem manda; naquele momento foi decidido assim. Há que respeitar.
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"Ser presidente da Federação não é uma meta neste momento"
P | Figo, Rui Costa, Fernando Couto, João Pinto; quatro exemplos de jogadores pertencentes à chamada geração de ouro que ainda estão no activo e ao mais alto nível. Com explica esta situação?
R | É com muito agrado que sigo essa leitura. Agrada-me, no sentido de que já tivemos oportunidade de ganhar tudo no futebol e que conseguimos manter um alto nível, querendo sempre ganhar, jogando sempre com esse objectivo, com um espírito de conquista. O mais difícil numa carreira de alta competição não é chegar ao "top" ou estar um ano no "top". Um ano toda a gente, tendo alguma qualidade, pode lá chegar. O mais difícil é mantermo-nos num alto patamar durante 15/20 anos.
P | Rui Costa tem sido o verdadeiro maestro do Benfica. Surpreende-o?
R | Não me surpreende nada, porque conheço bem o Rui. Quando tens qualidade e tens uma atitude de querer ganhar sempre, de manter o prestígio, de não baixar o nível, chegas lá. E é esse é o espírito do Rui. Há, claro, o aspecto da saúde que decide. Se tens ou não capacidade física que te permite fazer isso que te permite corresponder à qualidade que tens. Se é assim, tudo bem, depois é uma questão para o treinador decidir. Se não, como aconteceu ao Rui no ano passado é extremamente difícil.
P | Figo não se imagina na presidência da Federação ou do Sporting, por exemplo?
R | Não vou dizer que quero ser isto ou aquilo. Quando deixar de jogar futebol, de certeza que vou ter oportunidades de me envolver em projectos novos. Mas não tenho o objectivo de ser presidente da Federação. Não é um objectivo imediato. Não é uma meta a que me proponho neste momento. Se calhar daqui a dois anos passa a ser e então terei de lutar e preparar-me para isso. Mas não é uma situação que neste momento me interesse, do género, ok, vou deixar o futebol e vou preparar-me para ser presidente da Federação ou de outra coisa qualquer.
P | Do Sporting…
R | Não, não são coisas que pense neste momento. Se surgir um projecto interessante a que eu pense que posso acrescentar algo de positivo, e não por ser unicamente Figo, no momento que achar que é o melhor caminho, pensarei no assunto. E não será por ser o Figo que serei presidente da Federação ou do Sporting ou do que quer que seja. Tenho de pôr qualquer coisa de positivo nesses projectos no sentido de as pessoas confiarem em mim e no meu trabalho. Não vou querer estar num sítio apenas por me chamar Luís Filipe Madeira Caeiro Figo.
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"Kaká vai ganhar o FIFA World Player"
Em Dezembro, a FIFA escolhe o sucessor de Cannavaro, mas Figo não tem dúvidas. "Ganha Kaká. Conquistou a Liga dos Campeões e esse é um ponto importante na decisão". Cristiano Ronaldo e Deco são os representantes da Selecção Nacional no restrito naipe de 30 candidatos ao "FIFA World Player", onde está também Messi, outro favorito. "É sempre subjectivo falar de A, B ou C quando há tanta qualidade. Em termos individuais há um grupo de dez jogadores que podem, ano a ano, lutar por esse prémio", explica o extremo do Inter, que considera basilar o comportamento dos candidatos nos grandes eventos. "O estado físico é sempre importante para uma boa resposta individual, mas o que se ganha nos clubes e os desempenhos nos Mundiais e Europeus também são factores importantes".