Post by 7Figo on Jun 18, 2007 16:31:56 GMT
Figo só assumiria um cargo no futebol no final da carreira se para tal fosse forçado
“Não sinto que ele tenha estômago ou fígado para continuar ao serviço do futebol após concluir a carreira de jogador”. É esta a convicção expressa, em entrevista ao «ALGARVEPRESS”, pelo empresário Paulo China, de 50 anos, amigo e confidente de longa data de Luís Figo, de quem se tornou sócio em negócios nesta região do Sul do País.
Sigiloso em muitos aspectos respeitantes ao futebolista do Inter de Milão, Paulo China admite que um dos momentos mais difíceis foi quando ele se despediu da Selecção Nacional, após o Campeonato do Mundo realizado, entre Junho e Julho de 2006, na Alemanha, onde Portugal ficou em quarto lugar, contrariando quem o considerava já acabado. Nessa altura, totalizou 127 internacionalizações, tendo-se tornado o jogador que mais vezes vestiu a camisola das quinas. “Tenho aprendido muito com ele na exigência em relação às coisas e aos amigos, bem como no saber estar num mundo que envolve pessoas conhecidas e não conhecidas. Aprendi a saber lidar com pessoas supostamente conhecidas por famosas”, reconhece o co-proprietário, com Figo, do famoso Sete Bar, na marina de Vilamoura, onde se juntam, sobretudo no Verão, muitas figuras não só do futebol, como da política, dos negócios e de outros sectores da sociedade.
SAÍDA DE FIGO DO REAL DE MADRID PARA O INTER DE MILÃO AINDA NÃO ESTÁ EXPLICADA
Luís Figo era “um rapaz reservado” quando China o conheceu nos tempos em que ele jogava nas camadas jovens do Sporting e da Selecção Nacional. Mais de quinze anos depois, garante que “sabe sofrer” e a fama e o dinheiro não lhe deram volta à cabeça, “antes pelo contrário, ficou mais humilde”. Diz que a saída de Figo do Real de Madrid para o Inter de Milão “não está explicada”, mas assegura saber qual foi o motivo. Depois do futebol, o futuro do jogador português com uma carreira recheada de títulos e prémios, passará por negócios na área do turismo e no sector imobiliário, tanto no Algarve, como noutras zonas do país. “Precisamos de muitos Figos nos investimentos de qualidade”, afirma Paulo China, deixando um recado às entidades ligadas ao turismo e câmaras municipais para “reconheçam” projectos a esse nível “e possa surgir alguma coisa para o bem de todos nós”.
ALGARVEPRESS – Quando e em que circunstâncias conheceu Luís Figo?
Paulo China – Conheço o Luís Figo há muito tempo quando ele, com 15, 16 ou 17 anos, integrava as camadas jovens do Sporting e da selecção nacional, então comandada pelo treinador Carlos Queiroz, naquela que acabou por ficar conhecida pela chamada «geração de ouro» do futebol português, com a conquista de dois campeonatos do mundo de sub-20, em Riade e em Lisboa. O Carlos Queiroz nasceu em Moçambique, como eu, e somos amigos há muitos anos.
– Foi nos treinos que começou por chegar ao contacto com o jogador?
– Também. Mas nessa altura, já era amigo de alguns ídolos do Luís Figo. Destaco nesse sentido o Fernando Gomes, o Fernando Chalana e o Paulo Futre, entre outros. Vilamoura era o local de férias, no Verão, de todos os craques do mundo do futebol. E já estou há mais de 25 anos no Algarve.
– Como era o Figo quando o conheceu?
– Era um rapaz reservado. Sentia-se nele uma humildade imensa e com bom berço, ou seja a influência dos pais. De resto, havia um grupo interessante de que faziam parte, por exemplo, Luís Figo, Rui Costa, João Pinto, Jorge Costa e Abel Xavier. Nunca mais esqueço a bola e uma camisola assinada que me ofereceram - e as quais guardo com muito amor - quando estiveram em estágio, no Algarve, antes da participação da selecção nacional de sub-20, no Campeonato do Mundo, em Lisboa, onde acabaram por se sagrar, de novo, campeões. Como sou um apaixonado por fotografia, registei aquele momento no Algarve e que ainda há pouco tempo o revi num álbum de recordações.
É DEDICADO NÃO SÓ À FAMÍLIA COMO A OUTRAS PESSOAS QUE O RODEIAM
– E como tem acompanhado todo o percurso profissional e pessoal de Figo até hoje?
– Não só eu, como todos os colegas e treinadores que com ele têm convivido, reconhecem que Luís Figo é um grande campeão, uma pessoa acima da média como homem, como companheiro de profissão e no meu caso como sócio. Atribui valor às coisas. A jogar futebol, é capaz de ter havido melhores jogadores. Mas, no fundo, no conjunto das outras coisas, tem revelado ser, além de um grande jogador, também um grande homem. Não é por acaso que ele é reconhecido não só em campo, mas ao nível da nossa sociedade. Tem-me dado muitas alegrias tanto naquilo que faz de melhor, que é o futebol, como em termos pessoais e familiares. Faz questão de me tratar como se eu fosse o seu irmão mais velho. Tenho tido oportunidade de conviver com ele e com a família (a esposa, as três filhas do casal - Daniela, Martina e Stella - que são as suas princesas, o pai e a mãe) e só posso confirmar que se trata de um homem com H grande. É dedicado não só à família dele, mas preocupado com a minha e com outras pessoas que o rodeiam.
– Telefona-lhe com regularidade a perguntar, por exemplo, se o senhor e a sua família estão bem?
– É verdade. Tenho outras pessoas amigas que não perguntam como vai a minha saúde. Ou, então, só o fazem quando precisam de mim para alguma coisa. Mas o Luís, não. Não tenho palavras para o descrever. Cada um que interprete como quiser. Só podendo ter a oportunidade de conhecer o Figo é que será possível ficar com uma noção exacta das suas qualidades.
– Qual a influência do casamento com a modelo sueca Helen Sweden? Contribuiu para reforçar a sua estabilidade a vários níveis?
– Conheço muita gente, hoje em dia, por ter oportunidade de conviver nos mais diversos sectores da nossa sociedade com pessoas de vários quadrantes e só posso dizer que o Luís casou com uma grande senhora a todos níveis. Os adjectivos que possa aplicar para definir a personalidade do Luís, são extensivos à Helen. Exigente para com os amigos, gosta de cumprir horários, dá a cara e diz o que tem a dizer
– O que tem aprendido com o Figo?
– Tenho aprendido muito com ele na exigência em relação às coisas e aos amigos, bem como no saber estar num mundo que me envolve pessoas conhecidas e não conhecidas. Aprendi a saber lidar com pessoas supostamente conhecidas por famosas.
– De que forma? Passou a encará-las, à partida, com algum sentimento de desconfiança ou com mais à-vontade?
– Não estou a referir-me a nesse nível, mas sim no tocante à oportunidade de poder fazer parte da confiança do Luís, dos seus amigos (só eu sei quem são) e de privar com os mesmos, em que a alma do negócio é o segredo de tudo. É uma questão de não me excitar com essas pessoas e fazer com que elas tenham confiança total em mim. É que me podem transmitir as coisas que quiserem, que eu as guardo.
– Os amigos dele limitam-se ao futebol ou abrangem outros sectores?
– Abrangem outros sectores. O Luís é muito grande. Tenho dito com insistência a muita gente e volto a dizer que ele é o nosso grande embaixador no mundo.
– Disse que Figo é exigente para com os amigos. Referese a lealdade, por exemplo?
– Sim. Como já o conheço bem, sei respeitá-lo na privacidade da sua vida, dos seus amigos. Ele é exigente não só em relação aos negócios, como em vários aspectos do dia-a-dia. Dá-me um bom «background » ter tido a oportunidade de poder estar em sua companhia ao mais alto nível num meio como o futebol e aprender as coisas boas de todo esse mundo.
– Que outras características destacaria na sua personalidade?
– Ele é uma pessoa disciplinada, que gosta de cumprir horários. Se tem um encontro marcado às 9.00 horas, ele lá está nessa altura ou até chega cinco minutos antes. Costuma dar a cara e o que tem para dizer, diz. Quando tem de telefonar, telefona.
– Já teve algum desaguisado com ele?
– Não. O que se pode chamar desaguisado é uma forma de comunicação entre nós. Mas sinto quando está triste e o mesmo se passa com ele em relação a mim. E nessa altura, tenho de pensar porque é que ele se sente triste. Mantemos uma comunicação muito forte. Falo com ele antes ou depois dos jogos e já tenho essa intuição para saber como se sente.
– Só tem realçado virtudes de Luís Figo. E os defeitos?
– Defeitos num campeão como ele? Não encontro. Só sinto orgulho de poder fazer parte da vida dele.
– Como analisa a carreira em Espanha e agora em Itália?
– Fui muito jovem para Espanha e adaptou-se perfeitamente. Dois anos depois, era capitão de uma grande equipa como o Barcelona. Depois, nos cinco anos em que esteve no Real Madrid e no meio dos «galáctios», como lhes chamamos, conseguiu o que se sabe. A saída dele de Madrid para Milão não está explicada (eu sei o motivo) e veja-se a sua capacidade para liderar uma equipa como o Inter, num outro país com uma língua diferente e com a família a adaptar-se a uma nova realidade. E pôde ser feliz logo no primeiro ano, em que ganhou o que ganhou, tendo ainda conseguido participar em grande nível na selecção no Campeonato do Mundo de Futebol, na Alemanha, e dado uma grande alegria aos portugueses. Ele sabe, sem dúvida, sofrer. Ao nível da selecção nacional, saiu pela porta grande apesar de algumas pessoas o criticarem, considerando que ele já estava acabado para o futebol. Mas ele, com 33 anos, demonstrou precisamente o contrário e continua a defender até à exaustão a sua profissão. Todos os patrões que tem tido reconhecem o grande valor em relação à sua pessoa.
– E como perspectiva o futuro de Figo?
– Daquilo que conheço do Luís, no futuro ele vai surpreender- nos. E para o bem do país. Ele gosta de Portugal, adora o Algarve, Vilamoura. Pronto, não vou dizer muito mais. O futuro a Deus pertence.
- Mas acha que ainda terá condições para jogar durante mais alguns anos?
– É óbvio. Ele está a jogar ao mais alto nível. Depois de ter dito adeus à selecção, tem agora mais tempo para poder recuperar. Sinto que estão todos muito contentes com ele no Inter de Milão. Estive há dias em Itália e tenho a percepção de que, se calhar, vão querer que fique lá mais um ano ou outro. É um grande profissional e penso que será difícil retirar-se tão cedo do futebol. Há a questão, também, do clube do coração, em que como sportinguista vê com bons olhos terminar aí a carreira com toda a dignidade e respeito.
– Qual foi o momento mais triste que sentiu nele?
– (após alguma hesitação) O momento mais triste?... Guardo para mim. São coisas íntimas.
– A saída da selecção nacional terá sido um momento difícil…
– Obviamente. Não é fácil a uma pessoa deixar o maior do clube do mundo que é para qualquer jogador a selecção do seu país.
– O dinheiro a fama alteraram a sua personalidade?
– Não. Antes pelo contrário. Ficou mais humilde. Daí que eu diga, uma vez mais, que ele é um grande campeão.
– Acha que após o final da carreira de jogador, poderá continuar ligado ao futebol como treinador ou dirigente?
– Como amigo do Figo e conhecendo o seu feitio, o grau de exigência, a sua inteligência e força natural que tem, não sinto que ele tenha estômago ou fígado, como se costuma dizer, para continuar ao serviço do futebol português, após concluir a sua carreira como jogador. Conheço a parte mais bonita do futebol, que passa pelas férias, pelas famílias. Mas como oriental e curioso que sou, tenho a percepção que o Luís só assumiria um cargo no futebol se para tal fosse forçado. Mas como não faz nada forçado, irá por outro caminho.
EM PRINCÍPIO FIGO VIRÁ VIVER PARA O ALGARVE
– Qual será esse caminho?
– É o turismo, o Algarve. Como o maior embaixador de Portugal ao longo de todos estes anos, a sua mais-valia vai no sentido de continuar a fazer qualquer coisa em prol da qualidade do Algarve naquilo em que está envolvido. Ele pode ser um guru na área empresarial ao nível do turismo e do sector imobiliário e trazer mais-valias a esta região. De resto, estou fazendo força para que tal aconteça. Em princípio, ele virá viver para o Algarve. Bem precisamos de Figos nos investimentos de qualidade.
– Depois do «resort» recentemente construído no concelho de Lagoa, que projectos imobiliários estão na forja?
– O Algarve está a crescer desde Sagres a Vila Real de Santo António. Há muita coisa que ele poderá fazer numa região, onde existe cada vez mais uma procura bastante significativa a nível mundial. Haverá sempre espaço para projectos com qualidade que o Luís tem na sua mente. Mas também é importante que as entidades ligadas ao turismo e as câmaras municipais reconheçam essa qualidade e possa surgir alguma coisa para o bem de todos nós.
– A aposta passa sobretudo pelo litoral ou pode estender- se ao interior?
– O Algarve tem fronteira com o Baixo Alentejo, com Espanha e com o mar… (gargalhadas)
– Os investimentos de Figo poderão chegar, também, a outras zonas do país?
– Sim. Temos estado a ser bem tratados a nível de todo o país, sem dúvida, o que agradecemos. Temos falado com pessoas. No Algarve é onde temos a maior relação em termos de investimentos. Mas, no fundo, existe abertura geral para outras zonas do país. Ultimamente, até tenho falado mais com pessoas de fora do Algarve (risos).
in Algarve Press